¡Hola!
Quer saber como surgiu a Mostra de Cinema Argentino de Mujeres?
Se prepara que vem história, então é bom fazer um cafezinho – sem açúcar pra mim por favor – e vem comigo que te conto!
Ano 2018, foi a primeira Fiesta de Rua argentina em Belo Horizonte.
“Fiesta? Mas você não ia falar sobre a mostra? ” Calma, já vai ver que está tudo conectado!
Nicolás Pecchio, um argentino que mora em BH há muitos anos, promoveu os encontros, convocando e reunindo compatriotas que vivem em Minas Gerais. Assim, sempre no mês de maio – mês da comemoração da Revolução Argentina – ele cozinhava comidas típicas e fazíamos uma confraternização. Que para falar a verdade, pelas viagens a trabalho, só consegui ir uma vez, e no dia anterior da reunião, para ajudar a preparar empanadas. Aliás, foi assim que o conheci, em 2012, graças à minha amiga Ana Laura Corte – outra argentina que vivia naquela época na cidade. Assim, esses eventos foram ganhando magnitude e cada vez mais pessoas (de todas as nacionalidades) estavam presentes. Com o Centro Cultural Argentino em Minas Gerais (CCAMG) consolidado, começaram a pensar em fazer uma Festa Argentina na rua!
Voltando a 2018, Nicolás me conta que estava organizando a Primeira Fiesta Argentina em BH e me apresentou a Marcelo Gomez, que também é membro fundador do CCAMG e organizador da festa. Eles me chamaram para fazer a cobertura audiovisual do evento. Para quem não me conhece, trabalho com audiovisual desde 1997, passando por váaaarias áreas e com a minha empresa formalizada em BH desde 2016, a “Sem Fronteiras Cultura Audiovisual” (quando adolescente queria ser médica sem fronteiras, entendeu?! – 😛 ).
E o que tudo isso tem a ver com a Mostra? Caaaalma, te disse que era uma história e tanto!
No final de outubro de 2018, fui convidada pelo Consulado Argentino de Belo Horizonte, mediado por Marcelo Gomez, para fazer uma Mostra de Cinema Argentino em BH. Quando nos reunimos pela primeira vez, em outubro daquele ano, pedi a lista de filmes que faziam parte do acervo da embaixada da Argentina no Brasil. Para minha surpresa (ou talvez nem tanta), a lista era de filmes majoritariamente de diretores homens. E graças a essa lista é que veio o insight!
Até então, nunca tinha organizado uma Mostra de Cinema e tampouco tinha feito curadoria. Peeeeero tinha claro qual era o recorte que queria, meu leitmotiv: cineastas e protagonistas MULHERES; e também a data em que aconteceria: MARÇO de 2019. Fatores fundamentais e determinantes, então mãos à obra! {Tema para um próximo capítulo: como sobreviver à primeira curadoria}.
De outubro de 2018 a janeiro de 2019, mil coisas aconteceram … inclusive receber a notícia de que não havia verba para o evento, zero money my darling, nem pra pagar a taxa de exibição dos filmes que já tinha selecionado. Naquela época, além da curadoria e produção da mostra, estava trabalhando na pesquisa e tradução do documentário “Helena Antipoff”, este ponto é muito simbólico pra mim. Para quem não sabe e de forma muito resumida, vou contar: Helena foi uma psicóloga e pedagoga russa que chegou ao Brasil em 1929 sem falar uma palavra em português. Ela morou no Rio de Janeiro e depois veio para Minas Gerais onde se radicou e foi a pioneira na implantação da educação especial integrada e da educação rural. O legado dela é muito mais do que isso e abaixo deixo o link do documentário completo para que possam conhecê-la mais. Tive o privilégio de ler seus diários (de luvas e máscaras, quando as máscaras não faziam parte do nosso dia-a-dia) e ouvir histórias de pessoas que a conheceram. A maioria concordou em dizer “…ela continuava sem se importar com as condições, o contexto nunca foi favorável, mas ela não parava para esperar. Simplesmente fazia! Ela nos ensinou a plantar para não depender… ” Obrigada Helena!! E meu agradecimento especial para Ana Amélia Arantes por me apresentar a esta mulher tão poderosa e por me dar a oportunidade de trabalhar em um projeto que também foi decisivo para a Mostra!
Em fevereiro de 2019, e quase sonhando com a inspiração da Helena, decidi continuar apesar de tudo e recalculando a programação, as diretoras argentinas convidadas, o espaço expositivo, a identidade visual e tuuuuudo mais! Avalanche de emoções, oh yeah baby!
Assim, junto com Marina Lomazzi, que na época era secretária do CCAMG, continuamos com a produção e com os filmes que selecionei, mas apenas com as distribuidoras que abraçaram a causa e apoiaram sem a cobrança das taxa de exibição, e em alguns dos casos, com permuta da tradução e legendas em português.
Entoncesssss:
– de dez filmes, ficaram seis.
– das três diretoras convidadas, ficou uma. {Este será o assunto de um próximo capítulo: “como conheci Inés!”}
– a sala de cinema Humberto Mauro entrou como parceira na realização.
– vaquinha dos meninos do CCAMG para compra de passagem {Isso também será assunto de um próximo capítulo: “a passagem de última hora, literal”}
E claaaaaro, ter um grupo de apoio de amigos profissionais, que aderiram ad honorem, fez tooooooooda a diferença (pode olhar a ficha técnica e ver quantas pessoas trabalharam para poder realizar a Mostra).
Continuamos em fevereiro de 2019, quase chegando o carnaval, e ainda não tinha identidade visual definida. Falei o que estava acontecendo com minha amiga, a artista e designer Raquel Pinheiro, e ela olhou os gabaritos que tinha e me falou: entendi, mas posso refazer?. Assim ela criou, em tempo quase recorde, o que seria a cara da Mostra.
Faltando menos de uma semana para o evento começar e enquanto estava na sala de cine Humberto Mauro fazendo os testes técnicos dos filmes, percebi que não tinha a vinheta de apresentação. Voltei para casa caminhando, preocupada e pensando no que poderia fazer. Naquele momento vi uma folha de árvore caindo quase voando pelo ar, numa dança sutil, deixando-se levar pelo vento.
Lembra da Ana Laura Corte, que mencionei antes? Bem, ela é dançarina e admiro muito o trabalho dela. Automaticamente pensei na Ana. Era ela dançando! Liguei para ela na hora, nessa época ela estava morando em São Paulo. Falamos sobre conceito, cores, estilos e música… e a música? Aí, me lembrei de outro amigo argentino, Juan Carizzo, músico independente. Falei com ele, e me disponibilizou a sua discografia para escolher à vontade e piacere! Adorei a sua: “Macabra”. Só que era uma música de mais de 7 minutos. Editei e saiu uma nova versão de 2 minutos e 6 segundos (com autorização dele, é claro!). Enviei para a Ana e depois de três dias ela me mandou o material que gravou junto com outro argentino e diretor de fotografia, Martin Avaro.
Comecei a editar e minhas vozes internas começaram: vai ter lettering, locução? Comecei a escrever, pedi umas dicas ao meu outro amigo, o roteirista Lucas Lanza. Ele fez algumas sugestões e, junto com Ana, o finalizamos!. Mas vai ser em espanhol ou em português? Pensei, porque escolher quando podemos ter os dois?! Então foi: locução em espanhol e letterings em português! Minha amiga equatoriana e locutora, María de los Ángeles Guerrero, deu-lhe a voz (graças ao meu amigo Lúcio Benedetti que conseguiu gravá-la), e por fim, a cor e a animação ficaram com a magia de Paulo César Alvim.
E foi assim que em março de 2019 tivemos a Primeira Mostra de Cinema Argentino de Mujeres, três dias consecutivos de sala lotada, e gente de todas as idades emocionada com os filmes. Tivemos também uma palestra ministrada por Isabelle Anchieta, participação da cineasta argentina convidada Inés María Barrionuevo, conferência com Roberta Veiga, rodas de conversa com o público presente e degustação de comidas típicas oferecidas pelo Che Nico Sabores Argentinos (para saber mais pode ir ver o histórico).
{no capítulo de curadoria também vou contar como conheci as palestrantes}
Como você viu, a base da Primeira Mostra de Cinema Argentino de Mujeres é uma rede de amor e união de forças! Pode parecer “fofinho demais”, mas realmente sinto que foi desse jeito! Claro que também ser teimosa e apaixonada tem suas vantagens , né?! Trabalhar com cultura quando não há recursos financeiros não é fácil e muitas vezes se torna um ato de resistência. E é essa resistência que, quando nos conectamos, nos inspira, nos fortalece e acaba nos salvando!
Foi muito gratificante fazer parte desta ponte entre estes dois países que são tão importantes para mim. Muito obrigada por todas as pessoas talentosas que abraçaram o projeto e acreditaram (e ainda acreditam) na potência de ter Mostras com este tipo de recorte! Muito grata também às pessoas que participaram! Foi uma sincronia e tanta! Gracias!!
E em 2020?
Vou continuar falando sobre isso em outro capítulo, tá?
Um abraço e até o próximo cafezinho!
Ah, o link do documentário: Entre Mundos – vida e obra de Helena Antipoff
Revisão de texto
Kharla Costa
Renata Martins
¡Gracias chicas!